China: Da fábrica do mundo à líder mundial em IA

Tempo de leitura: 12 minutos

Grande parte de nós atrela a palavra China a imagens e símbolos que nos remetem não apenas a estereótipos pejorativos do país, mas também da imagem do que é “oriental”, de um oriente místico, misterioso, longínquo, em que não se pode confiar.

Mas a realidade é que, aquilo que imaginamos “do lado de cá” como sendo uma imagem da China e do Oriente, é uma imagem superficial e, na maioria das vezes, errática do que são o país e a região. E é impossível falar de Ásia e de desenvolvimento sem falar de China. Não apenas por ser um dos gigantes regionais em termos territoriais e populacionais, mas também pelo seu importante papel no desenvolvimento e intensificação de um comércio internacional nos séculos passados, e na inovação e mudanças no comércio internacional atual.

Para começar a falar de China e a entender o país e a sua importância nos cenários regional e mundial, serão abordados os seguintes tópicos: i) Rota da Seda ii) Dados sociais; iii) Dados econômicos; e iv) Investimentos.

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Rota da Seda

A Rota da Seda foi um caminho que possibilitou uma evolução mais rápida dos fluxos comerciais entre a Ásia e a Europa. Apesar de pouco se falar sobre ela, essa rota foi um marco não apenas para as relações comerciais entre os dois continentes. Em seu livro “The Silk Roads”, Peter Frankopan fala sobre o intenso desenvolvimento das cidades situadas ao longo da Rota. O autor relata: “Cidades como estas [Constantinopla, Samarkand, Damasco, entre outras] se tornaram o lar de brilhantes acadêmicos que ultrapassaram as fronteiras de suas matérias. [1]

Talvez você esteja se perguntando por que esse acaba sendo um tema não tão comum pelo ocidente. Segundo Frankopan: “A ascensão da Europa desencadeou uma feroz batalha por poder – e pelo controle do passado. […] A história foi torcida e manipulada para criar uma insistente narrativa na qual a ascenção do oeste era não apenas natural e inevitável, mas uma continuação do que havia acontecido anteriormente. [2]

Desde 2013 a China tem trabalhado para recriar esta rota, adaptando o caminho original de acordo com os acordos comerciais atuais, mas almejando a mesma grandiosidade da rota original. O projeto atual foi intitulado como Belt and Road Initiative (BRI) em 2013 e em 2016 passou a se chamar One Belt, One Road (OBOR), simbolizando um caminho único e colaborativo entre os países, indo na contramão de algumas iniciativas mundiais como as americanas propostas pelo governo Trump.

Para o desenvolvimento desse projeto, a China prometeu investir US$ 1 trilhão em outros países para criação dessas novas rotas de comércio terrestres e marítimas ao redor do mundo. A OBOR evoluiu e, o que começou com um grande foco em infraestrutura – estradas, ferrovias, portos, aeroportos, fibra ótica, dutos, usinas de energia etc. – agora também engloba projetos educacionais, digitais, esportivos etc.

Em 2018 a iniciativa estendeu-se também para a América do Sul, Caribe e até mesmo para o Ártico. A Itália, em 2019, tornou-se o primeiro país do G7 a confirmar sua entrada no OBOR, e em abril do mesmo, o número de países que assinaram o acordo de cooperação já somava 126. Abaixo, um desenho do que a China projeta para essa iniciativa:

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Para entender como um país é capaz realizar iniciativas tão grandes como essa em tempo recorde, é fundamental olhar para alguns outros tópicos, inclusive para a questão populacional e alguns outros dados sociais.

 Dados sociais

Atualmente estima-se que a população chinesa esteja em torno de 1,4 bilhão de pessoas, o que corresponde a cerca de 20% da população mundial. Mais de 100 cidades chinesas atingiram a marca de mais de 1 milhão de habitantes. Em uma comparação breve, nos Estados Unidos apenas 10 cidades possuem essa mesma quantidade de habitantes. A consultoria Mckinsey reporta que, até 2025, mais de 221 cidades chinesas atingirão essa marca. Isso significa dizer que a quantidade atual de cidades com mais de 1 milhão de habitantes mais do que duplicará em pouco mais de 4 anos.

Olhar para o tamanho de uma população pode parecer simples e levar à pensamentos e comparações corriqueiras, mas a realidade é que ela pode ser muito mais significativa do que parece. Um simples dado populacional pode justificar, em parte, a magnitude de certos dados ecômicos, ligados à tecnologia e ao desenvolvimento de um país. No caso da China, muitas vezes é possível compreender valores que, a um país pequeno ou com uma população não tão grande, podem parecer esdrúxulos.

Segundo o IBGE, o PIB de um país, por exemplo, é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente calculado em uma base anual. Mas o que fica implícito nesse dado é que, entre outras variáveis, é possível fazer uma correlação entre o PIB e o índice populacional. Alguns estudos, como este “Correlação e Regressão Linear de Variáveis que interferem no Produto Interno Bruto do Brasil: Uma Análise Estatística de Dados” publicado na Revista Gestão Industrial mostram que conforme a popualação de um país cresce, seu PIB também cresce.

Dados econômicos

Apesar do PIB ser uma variável relevante, quando falamos de China, alguns outros dados de mercado ajudam a explicar o porquê de o país estar se tornando uma referência em tecnologia e inovação. E esses dados, de certa forma, também estão ligados à enorme quantidade populacional chinesa.

De acordo com o Ministério da Indústria e Informação da China, 802 milhões de chineses usam ativamente a internet e 98% deles acessam a rede por meio de dispositivos móveis como celulares, relógios e tablets.

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Em seu relatório Hurun Global Unicorn Index, o instituto de pesquisa Hurun revelou que 227 dos 586 unicórnios (empresas que atingiram um valor de mercado de US$1 bilhão) existentes no mundo, são empresas chinesas. Segundo Tracxn, uma empresa que monitora empresas inovadoras em mais de 350 setores de tecnologia, 148 dos 227 unicórnios chineses são empresas de tecnologia, e apenas nesse ano de 2021, a empresa já monitorou o surgimento de 14 novos unicórnios de tecnologia.

Os investimentos na América Latina realizados por fundos chineses de venture capital focados em tecnologia somaram US$ 30 milhões em 2015. E, mais incrível ainda, no ano seguinte esses números saltaram para US$ 1 bilhão.

A velocidade com que a China evoluiu, além de impressionante, pode ser difícil de compreender. Em 1990 era um país que poderia facilmente ser considerado miserável, com centenas de pessoas passando fome e vivendo abaixo da linha da pobreza. Hoje, 30 anos depois, o país multiplicou o seu PIB em 36 vezes, enquanto os Estados Unidos, por exemplo, levaram cerca de 117 anos para fazer o mesmo.

Investimentos em IA e robôs

O primeiro aparecimento do que conhecemos hoje como Inteligência Artifical (IA) foi em uma conferência da Universidade de Dartmouth em 1956. O primeiro robô industrial chegou pouco depois, em 1961. A tecnologia vem se desenvolvendo no decorrer dos últimos em função da necessidade cada vez mais intensiva de se análisar dados, de se utilizar robôs e chatbots em diversas tarefas e situações, e da percepção dos benefícios que essas tecnologias podem trazer às nossas vidas e ao nosso dia a dia.

A consultoria CB Insights declarou que a China é, atualmente, o principal polo de desenvolvimento de IA do mundo, na frente até dos Estados Unidos. Para entendermos melhor a evolução da IA na China, primeiro precisamos relembrar que o país possui uma população de mais de 1 bilhão de habitantes, o que significa gerar milhares e milhares de informações diariamente. No mundo de hoje, costumamos dizer que dados são tudo e, partindo desse pressuposto, faz todo o sentido que um país capaz de gerar uma quantidade tão relevante de dados seja o centro desse desenvolvimento.

Por outro lado, para que as grandes corporações consigam coletar e analisar esse volume de dados é preciso desenvolver inteligências artificiais capazes de interpretar esse volume todo, fazendo com que a China lidere, assim, o desenvolvimento dessa tecnologia. Além disso, a atuação do governo chinês e a quantidade de capital dedicado a essa nova tecnologia são outros dois fatores essenciais. Em 2017 o governo chinês anunciou publicamente um plano de três passos cujo objetivo é tornar a China a líder mundial em inteligência artificial até o ano de 2030.

O governo pretende que essa indústria atinja o valor de mercado de US$ 150 bilhões até 2030. A sua pretensão é estimular o uso de inteligência artificial em uma grande variedade de setores, de cidades conectadas até âmbitos militares. O governo planeja investir US$ 2,1 bilhões na criação de um parque de pesquisa focado no desenvolvimento tecnológico de IA, que será sede de até 400 empresas. Além disso, foi lançda o relatório Beijing AI Principles em parceria com 4 grandes universidades e centros de pesquisa chineses e uma coalização das principais empresas, incluido Baidu, Alibaba e Tencent.

Esse movimento que pretende tornar a China o polo central de IA já influenciou cidades a entrarem na briga. A cidade chinesa de Tianjin, um dos pólos portuários no nordeste da China, anunciou um investimento de US$ 16 bilhões em um fundo para reforçar a indústria local de inteligência artificial.

Brasil e China

Os investimentos planejados pela China como um todo são fruto não apenas de fundos governamentais, mas também de iniciativas municipais, contando com a participação de grandes players setoriais. Além disso, os investimentos chineses têm se mostrado cada vez mais diversificados, não apenas em termos setoriais, mas também geográficos.

No ano de 2009, a China tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, representando 18,1% do comércio total. Em 2016, de todas as exportações brasileiras para China, mais de 72% foram relacionados ao setor de commodities, o que significa dizer que o Brasil exporta a matéria-prima para que a China a processe e comercialize para o mundo seus produtos manufaturados.

Entre 2015 e 2018, o Brasil recebeu 55% dos investimentos realizados por empresas chinesas na América Latina. De acordo com o Ministério de Planejamento do Brasil, entre 2012 e 2016, os chineses investiram no Brasil mais do que o dobro no dos investimentos norte-americanos no país. Como mostra o gráfico abaixo da Bloomberg, após uma queda brusca nos investimentos de 2010 para 2011, a partir de 2017 houve também uma recuperação acentuada.

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No ano de 2015, o presidente Xi Jinping afirmou que um de seus objetivos é fazer com que o comércio total entre China e América Latina atinja a marca de US$ 500 bilhões até 2025.

Ambos os países parecem estar alinhados para que os investimentos chineses no Brasil sejam bem-sucedidos. Uma primeira iniciativa foi a criação, em conjunto, do fundo CLAI (China-LAC Industrial Cooperation Fund), um fundo de 20 bilhões de dólares com foco nos setores de infraestrutura, logística, energia e recursos minerais, agroindústria, tecnologia avançada, agricultura, armazenamento agrícola, manufatura, serviços digitais e outros setores que venham a ser de comum interesse das partes. Vale ressaltar que, em função do Brasil ser um grande parceiro comercial para setores de commodities, grande parte dos investimentos chineses no país estão relacionados a esses setores.

Apesar de toda essa coperação, o Brasil ainda não aderiu à iniciativa One Belt One Road. Em 2019, em uma visita à China, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, sinalizou o interesse do país em integrar a iniciativa, mas, até o momento, nada foi acordado. Segundo o general, “o Brasil não pode ser só uma loja onde a China vai comprar itens”. Durante o governo Bolsonaro as relações Brasil-China se tornaram mais difíceis e menos cooperativas especialmente em função de pontos de tensão criados por membros do Governo Federal e de membros da família Bolsonaro, prejudicando não apenas o comércio, mas também a perspectiva de investimentos chineses no país.

Conclusão

A China vem se desenvolvendo e investindo altos montantes no decorrer desses últimos anos. O país superou a pobreza e agora deixa para trás sua fase de fábrica do mundo, se tornando um país referência em tecnologia e inovação. A China já assumiu a posição do país que mais investe em Inteligência artificial no mundo e está criando um dos maiores projeto de cooperação mundial com a iniciativa One Belt One Road.

Apesar de todo esse progresso, é frequente que, no Brasil, os produtos chineses ainda sejam vistos como sendo produtos de má qualidade e de procedência duvidosa. O Brasil demora a participar de uma iniciativa que pode vir a mudar a forma como o comércio é feito no mundo em função de, entre outros fatores, uma subvalorização, por parte da população e do governo atual, da potência que é a China e do seu potencial de desenvolvimento.

O mundo tem muito a aprender com esse país que apresenta há anos um crescimento impressionante, especialmente na última década, e que possuí planos grandiosos para o futuro. Um país que não esquece sua história milenar e que cultiva suas tradições, olhando, antes de tudo, para dentro antes de buscar a expansão de sua influência.

Xiexie!!

Post escrito em parceria com:

Ana Beatriz França – Internacionalista e pós-graduada em inovação e estratégia pela ESPM, com experiência nas áreas de consultoria e novos negócios

Bruno Akio – Administrador e pós-graduado em empreendedorismo e gestão de negócios pela Saint Paul, com experiências nas áreas de tax e inovação

 

[1] Tradução livre.

[2] Tradução livre.


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